Após a Reconquista Cristã da Península pelo reino de Leão e com a afirmação do reino de Portugal, as terras da região de Bragança abrangiam a área geográfica entre os rios Mente/ Rabaçal/ Tua e o Douro/Aliste e sobre ela incidiram, entre os anos de 1143 e 1187, uma disputa acesa sobre a sua posse política e religiosa, quer pelos reinos de Portugal e Leão, quer pela própria Arquidiocese de Braga.
Tal situação, a nível político, ficou temporariamente ultrapassada, quando a irmã do nosso primeiro rei casou com Fernão Mendes Braganção, consolidando-se a mesma com a atribuição de forais a Freixo de Espada à Cinta (1152), Mós (1162) e Urros (1182) e mais tarde Bragança (1187) pelo rei D. Sancho I.
D. Afonso Henriques (1112 – 1185), tendo estabelecido capital em Coimbra, delegou aos Cavaleiros da Ordem do Templo, o encargo da defesa e fortalecimento dos acessos a sul e a leste do rio Mondego, concedendo-lhes diversos domínios em Trás-os-Montes.
As terras de Penas Róias foram doadas em 1145 à Ordem dos Templários por Fernão Mendes Braganção, tenens da Terra de Bragança, circunscrição na qual a localidade estava inserida, coincidindo com testemunhos arqueológicos do séc. XII ou até anteriores, finais do séc. XI.
Sob a direção do Mestre da Ordem D. Gualdim Pais, teve início a construção do castelo de Penas Róias, correspondente ao ano de 1172 (Era Cristã) ou 1210 (da Era Hispânica) ou a Era 1219 (correspondente a 1181), conforme inscrição epigráfica deteriorada na Torre de Menagem.
No reinado de D. Sancho I (1185 – 1211), empreendeu-se novo esforço de repovoamento da vila, que passou a sede de concelho. Nessa época, já a Ordem do Templo tinha deslocado a sua atuação mais para o sul, Beira Baixa, tendo recebido os domínios de Idanha-a-Velha (confirmados em 1197) e de Monsanto (1165), e, uma parcela junto a Vila Velha de Ródão (1199).
Também em 1232 os Templários constituíram a Comenda de Santa Maria de Castelo Branco (Mogadouro), sendo seu Comendador D. Paio Gomes.
Nos reinados de D. Afonso II e D. Sancho II, continuaram os conflitos militares de fronteira com o reino de Leão, dadas as pretensões destes territórios por ambas as partes, havendo mesmo trocas de terras entre os reinos, nomeadamente a norte, este e sul de Trás-os-Montes, com fronteiras fluviais dos rios Maçãs, Angueira e Douro e terras de Vimioso e de Moncorvo, e, posteriores concessões à Ordem dos Hospitalários.
Em fevereiro de 1227, o Arcebispo de Braga D. Estevão Soares da Silva, ao estabelecer com o Mestre Templário D. Pedro Alvites, um acordo sobre a sua autoridade eclesiástica nas igrejas de Mogadouro e Penas Róias, obrigava a Ordem do Templo ao pagamento das dízimas arrecadadas e a prover as igrejas de capelães confirmados pelo Arcebispo. Este acordo foi renovado em 16 de outubro de 1263 pelo então Arcebispo D. Martinho, e, Vasco Fernandes, Mestre da Ordem no reino de Portugal.
Se a Ordem do Templo dominava o território mogadourense, já na vizinha terra de Miranda, partilhava o mesmo com a Ordem do Hospital, pelo que, para ultrapassar o conflito relativamente ao exercício do padroado e domínio senhorial, tiveram de estabelecer uma concórdia em janeiro de 1231, com compromissos mútuos.
Conflitos com os vizinhos de Fermoselhe do reino de Leão, também preocupou a administração dos templários, cujos pleitos do séc. XIII foram testemunhados pelos homens-bons dos concelhos de Fermoselhe, Mogadouro, Penas Róias, Lampaças, Miranda e de Além- Douro. Igualmente a Comenda de Mogadouro e Penas Róias intervinha na resolução de outros diferendos ocorridos na região transmontana.
Em 1254, o senhorio templário, representado por frei Martim Pais, Comendador de Mogadouro e Penas Róias, reclamava, perante o Bispo de Zamora, que os moradores da última localidade, se furtavam ao pagamento dos dízimos, como tinha acontecido em julho de 1223.
Com efeito, os Comendadores preocupavam-se em prover o povoamento, aumentar os rendimentos da Ordem e estabelecer pontos logísticos de apoio às suas deslocações tanto no território sob a sua administração direta como em toda a região transmontana.
Na época, os concelhos de Mogadouro e de Penas Róias eram habitados por jornaleiros, lavradores, pastores, tecelões e outras profissões mecânicas, comerciantes e carreteiros que se dedicavam ao comércio e transporte de bens. Produziam cereais, vinho, leite, queijos, manteiga, lã colhida dos ovinos, cera e mel. Todos os seus habitantes, profissões e produtos, estavam sujeitos ao tributo religioso que beneficiavam a Ordem do Templo e a Arquidiocese de Braga. O rei passava a ser o senhor da terra a quem todos lhe pagavam foro.
Posteriormente, sob o reinado de D. Afonso III (1248 – 1279), a vila encontra-se referida nas inquirições de 1258, tendo recebido Carta de Foral, juntamente com Mogadouro, em 1272, foral esse renovado a Penas Róias no ano seguinte (1273).
Com a extinção da Ordem do Templo, D. Dinis (1279 – 1325) transferiu os domínios de Penas Róias para a Ordem de Cristo (1319), o que nos leva a crer ter havido lugar a trabalhos de recuperação e reforço das suas muralhas de defesa.
No reinado de D. Fernando (1367 – 1383) e devido a conflitos bélicos pela sucessão do reino de Castela (1ª, 2ª e 3ª guerras fernandinas), o concelho de Penas Róias cresceu com a integração do concelho de Bemposta (1369), a pedido daquele, uma vez que era pouco povoado e não conseguia reunir gente suficiente para a sua defesa. O rei acedeu, e, todas as localidades retornaram ao concelho onde, 54 anos antes (1315), D. Dinis tinha destacado. Porém, ainda no reinado de D. Fernando, o concelho de Bemposta voltaria a ser restaurado.
Em 2 de fevereiro de 1457, é confirmada pelo rei D. Afonso V de Portugal (1438 – 1481) a compra da vila e do castelo de Penas Róias por Álvaro Pires de Távora a Rui Gonçalves Alcoforado, cavaleiro e criado do Conde de Ourém.
Em 1509 a vila ainda se encontrava murada, conforme a iconografia de Duarte de Armas (Livro das Fortalezas, c. 1509).
D. Manuel I (1495 – 1521) concedeu-lhe o Foral Novo em 1512.
Em 1758 o castelo de Penas Róias já se encontrava em avançado estado de ruína.
Castelo de Penas Róias
O castelo de Penas Róias localiza-se na povoação e freguesia de Penas Róias, concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, Portugal.
Foi construído no séc. XII (1172 da Era Cristã) pela Ordem do Templo, sob a direção do Mestre da Ordem, D. Gualdim Pais.
Pouco se sabe acerca da primitiva ocupação humana desta região. Os testemunhos arqueológicos apontam uma ocupação proto-histórica do local, que poderá estar relacionada a um castro. Durante a invasão romana da Península Ibérica, encontrava-se abandonado. Porém, outros autores, apontam para uma fortificação de origem muçulmana.
Aquando da constituição da nacionalidade portuguesa, para defesa da fronteira leste de Portugal com o reino de Leão e Castela, integrava, juntamente com os castelos de Algoso e Miranda Douro, da Ordem do Hospital; Outeiro, Vimioso e Bragança, da Coroa, e, Mogadouro e Longroiva, também dos Templários, o núcleo duro de defesa do Nordeste Transmontano.
Apesar da ruína em que se encontra, esta já datada de 1758, constitui um bom exemplo de castelo roqueiro românico, construído num esporão rochoso com condições naturais de defesa, de planta subtrapezoidal, de que conserva pequenos troços de muralha e parte de duas torres semicirculares a nascente que, segundo Mário Barroca, apesar de sugerirem uma anterioridade em relação à obra templária, não estão ligados à arquitetura leonesa, conforme defendido por outros autores, mas antes a uma superior qualidade construtiva.
Isolado a meio do pátio e sobre o afloramento mais inacessível, dispõe-se a torre de menagem, a quarta mais antiga e datada associada aos Templários.
Tem planta quadrangular, mas adaptada ao afloramento, o que confere certa inclinação aos paramentos, que são aprumados e de três pisos. O inferior, sobrelevado com porta de verga reta, com inscrição alusiva à construção em 1172, acessível por meio de escada móvel e interiormente iluminada por seteiras, rasgadas em cada uma das faces. No último piso e certamente resultante de reforma posterior, possui janelas com balcão.
Segundo o desenho de Duarte de Armas, o castelo tinha duas portas, a principal, a oeste, e a porta falsa ou da traição, a nascente, na encosta mais íngreme, uma barbacã da porta, que culminava no que parece ser uma torre albarrã, com passadiço em ângulo reto e onde se apoiava a cerca da vila, então já abandonada, e ainda uma segunda linha de muralha, desenvolvida no sopé do monte, junto à povoação.
A letra da inscrição na porta da torre de menagem é de má qualidade gráfica e tem características similares às da inscrição do castelo de Longroiva (v. IPA.00006489).
Apesar da Ordem ter tomado posse dos castelos de Penas Róias, Mogadouro e Longroiva em 1145, sendo o primeiro doado por Fernão Mendes, o Braganção, em tempo de D. Afonso Henriques, parece que só depois de ter concluído o castelo de Tomar, que a absorveu completamente durante uma década (1160-1169), é que investiu na sua reformulação arquitetónica.




