“Pen Rúbia” a sua História e o seu Património (I)

Quem vê a modesta aldeia de Penas Roias de hoje não faz ideia da importância que teve na documentação medieval. (…) É que o homem, fera por essência ou pelo menos de primeira categoria, incapaz de regeneração, pelo menos coletivamente, procurou primeiro garantir-se contra o seu semelhante, fixando-se, para isso, nos altos e locais naturalmente defensáveis. Hoje o progresso na arte de matar, ou seja, de exercer a vesânia devorista, tornou inúteis esses sítios, donde o êxodo para outros pontos táticos adequados.
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Daqui a decadência de Penas Roias, onde a fera de primeira categoria deixou às de segunda – aves de rapina, lobos, raposas, gardunhos e falange felinácea o cuidado de lhes manter as tradições.

CORDEIRO, António de Jesus
Penas Roias, aldeia com memória, 2014, p.52,
citando “Memórias arqueológicas do distrito de Bragança”

Localização

Situação geográfica

Localizado na região nordeste de Portugal, no distrito de Bragança, o concelho de Mogadouro é composto por 21 freguesias. Em consequência do êxodo rural a população tem diminuído drasticamente nas últimas décadas. Em 2011, contavam-se cerca de 9500 habitantes na totalidade do concelho. Houve também um considerável deslocamento das famílias para o centro do concelho o que significa que para além do decréscimo de habitantes é ainda maior a desertificação das suas aldeias, contudo, os recentes investimentos em vias de circulação automóvel tornaram o concelho e toda a região de Trás-os-Montes muito mais acessível, facilitando a entrada de visitantes.

Situada a 11 quilómetros de Mogadouro, na direção nordeste, encontra-se a aldeia de Penas Roias. Uma aldeia típica do meio rural, cujos habitantes se dedicam à agricultura para sustento próprio.

É uma freguesia portuguesa do município de Mogadouro, com 33,04 km2 de área e 382 habitantes (2011). A sua densidade populacional é de 11,6 hab/km2.

  • Penas Roias, tem hoje apenas cerca de 68 habitantes.

Nos anos de 1890 a 1900 tinha anexada a freguesia de Variz

A freguesia é composta por três aldeias:

  • Penas Róias
  • Variz
  • Vilariça

Foi vila e sede de concelho até ao início do século XIX, pertenceu à Coroa até inícios do século XIII e foi doada, pela mão de D. Sancho I, à Ordem dos Templários.

O município era constituído pelas freguesias de Castanheira, Penas Róias, Sanhoane, São Martinho do Peso, Macedo do Peso, Sampaio, Variz, São Pedro do Peso, Viduedo e Vilariça. Tinha, em 1801, 1 560 habitantes.

A Serra do Variz ou de Santiago está dividida entre as freguesias de Penas Róias e de Vila de Ala. Esta tem uma altitude de 970 metros, sendo a segunda maior do concelho.

Na freguesia passa a Ribeira de Bastelos, onde está inserida a Barragem de Bastelos, que fornece água a dezenas de aldeias e ainda à sede de concelho. Na zona da Barragem existe ainda um Parque de Merendas e uma Praia Fluvial, sem vigilância.

Faz fronteira,

Contextualização histórica

Origem

O ilustre escritor, Abade de Baçal, diz que o nome de Penas Roias provém do Fenício “Pen” que quer dizer, penha, rocha e do latim “Rubia” que quer dizer avermelhada.

Ou ainda:

Penas Roias, deriva de penha (penedo ou rochedo), sendo possível que Róia tenha derivado de “roja” ou seja vermelha.

Na aldeia de Penas Roias encontram-se importantes elementos arqueológicos. São elementos de caráter proto-histórico que denunciam os primórdios da sua ocupação. Estes encontram-se no interior de um abrigo denominado Fraga da Letra e são inscrições rupestres que aludem, segundo interpretações de arqueólogos, à prática da caça.

Mesmo com difícil e rudimentar acesso é um local com um forte potencial turístico que requer uma maior divulgação para atingir o público comum para além dos interessados nas áreas da arqueologia e história.

Restam na sua paisagem agreste traços de um passado histórico de relevo que a diferenciam e valorizam, são estes: o Castelo; o Monóptero de S. Gonçalo e as ruínas da respetiva capela; a Fonte da Cruz e outros artefactos: os machados de pedra e o sarcófago.

Evolução

Pressupõe-se que o início da povoação de Penas Roias se tenha dado antes do período de romanização, e que este tenha vindo a modificar completamente o modo de vida e o tipo de construção, substituindo a tipologia de vila castreja pela romana. Neste período a vila de Penas Roias, não sendo ainda denominada desta forma, tinha uma localização distante da atual.

A aldeia que já foi sede de concelho até ao início do séc. XIX é um local de importância histórica com elementos proto-históricos e um castelo com uma construção faseada sobre o qual se datam uma torre de menagem românica templária no séc. XII e a construção posterior de uma muralha no séc. XVI.

Fortificada no século XII, a aldeia constitui um ponto de forte relevância na afirmação cristã e conquista do limite nordeste do reino.

Dada a sua importância como ponto defensivo, a aldeia é doada aos Templários em 1145 que acrescentam a torre de menagem em 1172 com o cunho do mestre templário Gualdim Pais, empreendedor da construção em vários castelos românicos templários.

No início do século XVI Duarte d’Armas desenha uma muralha que circunda a torre de menagem, ficando o povoado ligeiramente afastado no seu lado exterior.

Outro ponto relevante na história da aldeia, foi a sua compra por parte da família Távora, em 1457, os quais deixaram como marco principal o monóptero de São Gonçalo. Apenas em 1759 a posse da aldeia passou novamente para a coroa.

Estado atual

Atualmente, a torre de menagem é o único elemento do conjunto original do castelo que se mantém em bom estado de conservação.

As restantes torres e a muralha foram desaparecendo, uma vez que a população utilizava a pedra da construção do castelo para construírem as suas habitações. Deste modo surge o método construtivo do local, a arquitetura vernacular, que no caso da região transfronteiriça de bragança se carateriza pelo uso da pedra e madeira.

Tipologia e método construtivo das habitações

A habitação típica unifamiliar, a construção mais comum da aldeia de Penas Roias, organiza-se em dois pisos sendo que o rés-do-chão inicialmente estava relacionado com a atividade agrícola de cada família. Poderia este ser uma adega, arrecadação ou alojamento de animais, que permitiam aquecer a restante habitação. O segundo piso, destinado à habitação propriamente dita era acessível através de uma escada exterior.

O método construtivo da região carateriza-se pelo uso da alvenaria de pedra local, predominantemente xisto ou granito, em paredes portantes de grande espessura. O granito era também utilizado em pontos de maior esforço como ombreiras, pilares e degraus. A madeira, normalmente de castanho ou carvalho, era utilizada na estrutura da cobertura, na estrutura e revestimento do pavimento e nas portas, guardas de varandas e janelas.

A cobertura era revestida com telha.

As fachadas têm um número escasso de aberturas para permitir um melhor isolamento, o que resulta num espaço interior pouco iluminado e geralmente fresco. Para aquecimento do ambiente, da água e para cozinhar utilizava-se a lareira. Este elemento ganha uma grande importância durante o inverno pois em torno dele reúne-se toda a família tornando-se assim num ponto central e primordial do espaço de estar.

Comunidade Penas Roias tem a sua população em decréscimo.

Restam na aldeia cerca de sessenta e oito habitantes (68), com residência permanente e um total de cerca de cento e cinquenta (150) habitantes se considerados os que residem em período de férias. Esta população encontra-se envelhecida, sendo que a grande maioria tem mais de sessenta e cinco anos e está reformada. São escassas as famílias com crianças e jovens e a escola primária existente encontra-se encerrada em consequência da falta de alunos. A sede de concelho, Mogadouro, disponibiliza a maioria dos serviços necessários e encontra-se a cerca de dezasseis quilómetros. Parte da população economicamente ativa tem habitação principal fora da aldeia e desloca- se a Penas Roias durante períodos de férias ou fins-de-semana. Outra parte encontra- se emigrada e visita a aldeia pontualmente criando acréscimos sazonais da população.

História

Antecedentes

Pouco se sabe acerca da primitiva ocupação humana desta região. Os testemunhos arqueológicos apontam uma ocupação proto-histórica do local, que poderá estar relacionada a um castro. À época da Invasão romana da Península Ibérica, encontrava-se abandonado.

Os castros estão quase invariavelmente localizados no topo de montes que são defesas naturais e permitem o controle táctico dos campos em redor.

Castro são antigas construções da Idade do Cobre e da Idade do Ferro características das montanhas do noroeste da Península Ibérica, na Europa.

Existem, nesta freguesia, pinturas rupestres que remontam ao Período Mesolítico, estando estas pinturas presentes na Fraga da Letra.

Património

Património Classificado

  • Castelo de Penas Roias, como Monumento Nacional (MN)
    • Categoria: MN – Monumento Nacional, Decreto n° 34 452, DG, 1.a série, n.° 59 de 20 março 1945
  • Monóptero de São Gonçalo, como Monumento de Interesse Público (MIP)
    • Categoria: MIP – Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n° 647/2012, DR, 2.a série, n.° 212, de 02 novembro 2012
  • Pelourinho de Penas Roias, como Imóvel de Interesse Público (IIP)
    • Categoria: IIP – Imóvel de Interesse Público, Decreto n° 23 122, DG, 1.a série, n.° 231 de 11 outubro 1933
    • 1943 – é pedida a desclassificação

Património não Classificado

  • Abrigo rupestre no Castelo de Penas Róias / Pena da Letra no Castelo de Penas Róias
  • Capela da Santa Casa da Misericórdia de Penas Róias
  • Capela Nossa Senhora das Dores, Variz
  • Capela de Santa Cruz, Penas Róias
  • Estação Ferroviária de Variz
  • Fonte da Cruz, Penas Roias
  • Fonte do Variz
  • Igreja Paroquial de Penas Róias / Igreja de São João Baptista
  • Igreja Paroquial de Variz / Igreja de Santo Antão
  • Igreja de São Ciríaco, Vilariça

Castelo de Penas Roias

“AS PENAS RÓIAS DO “REINO MARAVILHOSO”

O Castelo que nos chama de longe

O nome de Penas Róias desperta de imediato a curiosidade e quando se vê ao longe o castelo, no alto do monte rochoso, é maior o desejo de fazer um desvio e visitar esta aldeia do concelho de Mogadouro.

É uma das portas de entrada para o “Reino Maravilhoso” de Miguel Torga, a feliz descrição do universo transmontano.

É roqueiro, no alto do morro, fica em linha de vista com mais dois castelos “conseguimos ver os castelos de Algoso e de Mogadouro”.

Esta linha defensiva comunicava entre si e envolvia mais estruturas defensivas.

No castelo temos ainda vista para a aldeia e uma barragem, cuja albufeira abastece várias localidades da região.

Castelo de Penas Roias – O Castelo Medieval
  • Categoria: MN – Monumento Nacional, Decreto n° 34 452, DG, a série, n.° 59 de 20 março 1945

À época da Reconquista cristã da península, a região foi inicialmente conquistada pelo reino de Leão.

Após a afirmação do Reino de Portugal, no século XII foram reconstruídos o Castelo de Mogadouro e o Castelo de Penas Roias pela Ordem dos Templários, após ambos os castelos terem sido doados por Fernão Mendes de Bragança a esta Ordem em 1145.

Com a afirmação do reino de Portugal, diante do estabelecimento da Capital em Coimbra, tornou-se imperativa a sua defesa ativa. Para esse fim, D. Afonso Henriques (1112-1185) delegou aos cavaleiros da Ordem dos Templários o encargo de fortalecer os acessos a Sul e a Leste do rio Mondego, doando-lhes, a partir de 1145, diversos domínios como os de Mogadouro e outros, em Trás-os-Montes.

Os domínios de Penas Roias foram doados, em 1145, à Ordem, por Fernão Mendes de Bragança, tenens da Terra de Bragança, circunscrição na qual a localidade estava inserida.

Essa época coincide com testemunhos arqueológicos da sua ocupação no século XII, ou um pouco antes, já ao final do XI, o que sugere, para alguns autores, a prévia existência de um reduto defensivo no local, fato que poderia ser atestado pelos vestígios de torreões de planta circular (típicos de estruturas leonesas na margem direita do rio Côa, nesse período) que subsistem nos vértices do castelo.

Embora tradicionalmente se afirme a data de 1166 como a de início da construção do Castelo de Penas Roias, sob a direção do Mestre da Ordem D. Gualdim Pais, a inscrição epigráfica na Torre de Menagem encontra-se bastante deteriorada. É possível, entretanto, ler-se a data como Era 1210 (da Era Hispânica, correspondente ao ano de 1172 da Era Cristã) ou ainda Era 1219 (correspondente a 1181). Alguns autores pretendem ler nela o nome de Gualdim Pais, o que não é plenamente verificável. De qualquer modo, os trabalhos contaram com o seu patrocínio direto, uma vez que a torre (e o castelo) inscrevem-se no movimento maior de construção de castelos templários no país, todos assinalados por inscrições epigráficas e empreendidos por Gualdim Pais, como os de Almourol, Longroiva, Tomar e outros.

Sob o reinado de D. Sancho I (1185-1211), empreendeu-se novo esforço de repovoamento da vila, que passou a sede de Concelho. Nesta fase, a Ordem deslocava a sua atuação mais para o Sul, para a Beira Baixa, tendo recebido os domínios de Idanha-a-Velha e de Monsanto, em 1165 (os da primeira confirmados em 1197), e uma parcela junto à Vila Velha de Ródão, em 1199. O castelo dominava, à época, a pequena povoação de Penas Roias, ligeiramente afastada.

Posteriormente, sob o reinado de D. Afonso III (1248-1279), a vila encontra-se referida nas Inquirições de 1258, tendo recebido Carta de Foral, juntamente com Mogadouro, em 1272, foral esse renovado a Penas Roias no ano seguinte (1273).

Com a extinção da Ordem dos Templários, surge a Ordem de Cristo, e é para esta ordem que D. Dinis, transferiu os domínios de Penas Róias, em 1319, o que nos leva a crer ter havido lugar a trabalhos de recuperação e reforço das suas muralhas de defesa.

No reinado de D. Fernando (1367 – 1383) e devido a conflitos bélicos pela sucessão do reino de Castela (1a, 2a e 3a guerras fernandinas), o concelho de Penas Róias cresceu com a integração do concelho de Bemposta (1369), a pedido daquele, uma vez que era pouco povoado e não conseguia reunir gente suficiente para a sua defesa. O rei acedeu, e, todas as localidades retornaram ao concelho onde, 54 anos antes (1315), D. Dinis tinha destacado. Porém, ainda no reinado de D. Fernando, o concelho de Bemposta voltaria a ser restaurado.

Em 2 de fevereiro de 1457, é confirmada pelo rei D. Afonso V de Portugal a compra da vila e do castelo de Pena Roias por Álvaro Pires de Távora a Rui Gonçalves Alcoforado, cavaleiro e criado do Conde de Ourém.

Em 1509 a vila ainda se encontrava murada, conforme a iconografia de Duarte de Armas (Livro das Fortalezas, c. 1509).

Nesta fase, D. Manuel I (1495-1521) concedeu-lhe o Foral Novo (1512).

Em 1758 o castelo de Penas Róias já se encontrava em avançado estado de ruína.

Apesar da ruína em que se encontrava, esta já datada de 1758, constitui um bom exemplo de castelo roqueiro românico, construído num esporão rochoso com condições naturais de defesa, de planta subtrapezoidal, de que conserva pequenos troços de muralha e parte de duas torres semicirculares a nascente que, segundo Mário Barroca, apesar de sugerirem uma anterioridade em relação à obra templária, não estão ligados à arquitetura leonesa, conforme defendido por outros autores, mas antes a uma superior qualidade construtiva.

Descrição Breve da sua Arquitectura

Isolado a meio do pátio e sobre o afloramento mais inacessível, dispõe-se a torre de menagem, a quarta mais antiga e datada associada aos Templários.

Tem planta quadrangular, mas adaptada ao afloramento, o que confere certa inclinação aos paramentos, que são aprumados e de três pisos. O inferior, sobrelevado com porta de verga reta, com inscrição alusiva à construção em 1172, acessível por meio de escada móvel e interiormente iluminada por seteiras, rasgadas em cada uma das faces. No último piso e certamente resultante de reforma posterior, possui janelas com balcão.

Segundo o desenho de Duarte de Armas, o castelo tinha duas portas, a principal, a oeste, e a porta falsa ou da traição, a nascente, na encosta mais íngreme, uma barbacã da porta, que culminava no que parece ser uma torre albarrã, com passadiço em ângulo reto e onde se apoiava a cerca da vila, então já abandonada, e ainda uma segunda linha de muralha, desenvolvida no sopé do monte, junto à povoação.

Do século XX aos nossos dias

Com a cerca da vila de há muito desaparecida, o castelo encontra-se classificado como Monumento Nacional (MN), Decreto n° 34 452, DG, 1.a série, n.° 59 de 20 março 1945.

Em 1977 vieram à luz restos de colunas quando se lavrava um campo próximo. A intervenção do poder público fez-se sentir entre 1977 e 1978, quando foram procedidos trabalhos de consolidação e reparos nas muralhas e na Torre de Menagem, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Do antigo castelo templário, são visíveis atualmente apenas uma torre (fechada ao público) e os vestígios de antigas muralhas e cubelos medievais.

Descrição Complementar

No lintel e na pedra que remata a ombreira esquerda da porta da torre de menagem existe inscrição comemorativa da construção do castelo (CEMP n.° 142), com letra do tipo capitular carolino-gótica de má qualidade gráfica e características similares às da inscrição do castelo de Longroiva (v. IPA.00006489);

(Continua)

Marina Amaral
José Amaral
Andreia Gil

(Comenda de Mogadouro e Penas Róias – OPCTJ)

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