Um olhar sobre Medelim

Medelim, Freguesia do Concelho de Idanha-a-Nova, Distrito de Castelo Branco

O povoamento desta freguesia remontará à pré-história, atestado por três dólmenes situados na “Anta” e de onde terão sido retiradas as pedras para um aqueduto na estrada que passou a ligar esta povoação a Idanha-a-Velha por volta de 1940.

A romanização deste território foi também intensa, especialmente na zona de Santiago, onde dos alicerces da ermida foram retiradas duas aras romanas nos inícios do século XX e hoje guardadas no Museu de Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco.

Povoação destruída no início da nossa nacionalidade, foi repovoada por D. Sancho e de acordo com a obra do General João de Almeida, datada de 1945, “Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses”, terá sido erigido um castelo sobre as ruínas da antiga fortaleza romana. No entanto, não existe qualquer referência a esta fortaleza nos Tombos da Ordem de Cristo, nem em qualquer outra obra credível.

Medelim foi ainda priorado da apresentação do Marquês de Cascais e sede de concelho com Câmara e Justiça próprias, mas nunca possuindo pelourinho.

A toponímia das ruas desta freguesia é interessante onde se destacam:

  • Rua do Espírito Santo, que homenageia o orago da capela aqui existente (conhecida também por Capela de S. Sebastião), neste momento em fase de reconstrução. A entrada desta rua possui um belo edifício tradicional, casa da Ti Paróquia, podendo ter sido residência paroquial ou mesmo sede de Município.
  • Rua do Cavacal – Terá este nome por ter aqui existido um depósito comunitário onde os moradores depositavam aos seus cavacos (lenha). Estes cavacos serviriam para aquecimento das suas habitações, confeção de refeições e cozedura familiar de pão.

  • Rua da Judiaria – Nome dado supostamente por nesta rua viverem supostamente famílias judias e onde também havido uma sinagoga demolida nos anos 70.
  • Rua Victor Pires Franco – Com nome anterior de Rua Nova, última rua a ser rasgada antes da Urbanização da zona da Lameira, hoje denominada em honra de um benemérito que regressado de Terras de Vera Cruz, mandou contruir a torre e o cais da Igreja Matriz e as muralhas da escadaria do Sr. do Calvário.
  • Rua da Adua das Vacas – Hoje com o nome deturpado para Rua Nova, é um dos mais antigos arruamentos dentro de muralhas. O seu nome vem do árabe onde “Adua” significa rebanho e onde existiu um rebanho comunitário até início do séc. XX.
  • Rua do Ribeirinho – Construída sobre um ribeiro que percorre a aldeia de nascente para poente e onde existiu um pontão romano destruído nos anos 40.
  • Rua da Torre – Lugar onde terá existido o acantonamento romano e, tendo mais tarde muralha. No séc. XVIII o pároco Estevão Canilho (março de 1758) escreveu: “este local murado em toda a roda com muros exteriores e dentro da povoação há uma torre a que chamam castelo e haverá oito anos caiu o telhado e uma face dele, quase todo existe no mesmo estado.” Já não restam muralhas nem torre, somente o nome da rua.

A característica mais marcante de Medelim é o facto de ainda subsistirem muitos prédios com escada exterior de pedra, com compartimento oco por baixo onde os habitantes teriam os seus animais. É conhecida como “aldeia dos balcões”, em virtude das inúmeras casas de balcão, e conserva na sua malha urbana. Terra de bons canteiros, e serralheiros, a eles se deve muita da qualidade dos trabalhos em pedra e ferro que encontramos por toda a aldeia e nos arredores, como as belíssimas varandas da Casa Marrocos, em Idanha-a-Velha.

Em Medelim podem contar-se 116 balcões, onde acrescem os mais eruditos presentes nas casas senhoriais.

O balcão caracteriza-se por uma escada em granito de grandes lajes, que termina num patamar de acesso, também lajeado a granito e rodeado ou não de grandes guardas inteiriças do mesmo material.

A visita ao património religioso permite uma vista fabulosa pela aldeia percorrendo a mesma de nascente para poente:

Capela do Espírito Santo – também com devoção a S. Sebastião, alvo de uma intervenção profunda neste momento possui um altar rico e policromado que contrasta com a austeridade exterior característica do séc XVII. Possui ainda sobre a porta de entrada um triângulo equilátero alusivo à Santíssima Trindade.

Salienta-se que o culto ao Espírito Santo é um dos mais praticados na Beira Baixa.

Capela de S. Tiago – da qual resta muito pouco, apesar de ter tido um hospício anexo à mesma. Conseguem-se distinguir aqui belas cornijas e cimalhas de boa quantidade.

Capela da Misericórdia – não possui uma data precisa de fundação, sendo possível que tenha sido edificada por volta de 1500, seguindo a Misericórdia de Proença-a-Velha que é a única cuja fundação perdurou no tempo.

Outra data possível da sua fundação poderá ter siso entre 1701 e 1742.

A Misericórdia poderá surgir no seguimento de um pedido do Duque de Beja, D. Manuel ainda na qualidade de grão-mestre da Ordem de Cristo, senhor das Terras das Idanhas, requer ao Rei D. João II a criação de um couto de homiziados para onde eram desterrados criminosos (homicidas, ladrões, moedeiros falsos). A função das Obras da Misericórdia Corporais era neste sentido socorrer os pobres, visitar os presos, enfermos e cativos e também as Obras da Misericórdia Espirituais para ajudar os homiziados e eventuais judeus.

–  Igreja Matriz – construção do séc. XVII com uma inscrição no seu alçado posterior de 1771, foi alvo de intervenção nos anos 60, onde foi remodelado todo o seu interior, com a introdução de novo altar e de um púlpito Versus Populi em bom granito, onde se destaca o sacrário renascentista também em pedra.

A Torre sineira com construção de finais do séc. XIX é separada da Igreja, onde se destaca.

A padroeira da Igreja Matriz é a Santa Maria Madalena.

Ermida do Sra. do Calvário – com vista para a Bemposta, a cuja Comenda pertenceu encontra-se no vértice do Monte.

É constituída por dois corpos, alpendre exterior e corpo recolhido. A beleza do conjunto possui o contraste do granito envelhecido e a cal das empenas.

No seu exterior possui o clavário que abraça e abençoa a população.

O acesso à Ermida possui duas conjuntos de escadarias de largos degraus, edificadas no séc. XIX.

A exposição feita não é o suficiente para se conhecer Medelim, “aldeia dos balcões”, sendo necessária uma visita para nos maravilharmos com este lugar!

Carlos Gomes, Comenda de Idanhas (OPCTJ)
14 de Março de 2022

Bibliografia

  • GARCIA, José Manuel (1984) – Epigrafia lusitano-romana do Museu Tavares Proença Júnior. Castelo Branco: Museu de Tavares Proença Júnior.
  • GONÇALVES, Iria (org.) (2009) – Tombos da Ordem de Cristo: comendas da Beira Interior sul (1505). Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa.
  • GRUPO CULTURAL E DE COESÃO DE MEDELIM- Medelim:  aldeia dos balcões. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.
  • PEREIRA, Félix Alves (1934) – A Pedra d’Anta ou um monumento megalítico na Beira-Baixa. O archeólogo português, vol. 29. Lisboa, p. 49-73.
  • SALVADO, Maria Adelaide Neto (2002) – A Misericórdia de Medelim: apontamentos e lembranças para a sua história. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.

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